lundi 22 juin 2015

L'Été est de Retour



    Les journées se sont progressivement allongées.
    Et les températures oscillent entre des journées fort chaudes (35°C)
    et des jours plus frais (22°C), avec un vent du Nord (la Nortada),
    qui souffle fort et fait baisser les températures.
    Pour le reste, les bains de mer dans l'Alantique sont
    fort agréables et revivifiants.

    Le Portugal grouille de turistes, avides de découvrir notre
    délicieuse gastronomie, nos plages atlantiques, notre
    campagne, musées, etc...

    Soyez les bienvenus chez nous!
    Bonnes visites.
    Et bon appétit!

Du Design mis en Bouteille

Autrefois, les liqueurs de fruits étaient très prisées en ces contrées.
Les bouteilles de liqueur du présent dossier ont été produites 
entre 1940 et 1950. Elles étaient vendues peintes, pour les fêtes 
de Noël et de nouvelle année. 
Celles-ci ont "perdu" leurs couleurs. Personnellement je les trouve 
plus intéressantes sans peinture, au naturel.
Elles prenaient alors une allure fort kitsch car la qualité était médiocre.
Pleines de créativité, elles représentent des véhicules tels voitures,
trains, bateaux, tanques de guerre ou bien des personnages 
historiques ou populaires.



Voiture classique
Modèle de la fabrique de liqueurs "A ESMERALDA"
Collection privée







Publicité sur un journal
Fabrique de lliqueurs "A Esmeralda"




Locomotive
Modèle de la fabrique de liqueurs "A ESMERALDA"
Collection privée




Vasco Santana (1898-1958)
Acteur
Collection privée




Péres Noël   
Petit modèle créé par Amadeu Rocha
Collection privée




Péres Noël   
Grand modèle créé par Amadeu Rocha
Collection privée




Le clown
Modèle créé par Amadeu Rocha
Collection privée




Marque AR, Amadeu Rocha




Tanque
Modèle de la fabrique de liqueurs "A ESMERALDA"
Collection privée










Marque "A Esmeralda", à l'avant du tanque




Horloge
Modèle de la fabrique de liqueurs "A ESMERALDA"
Collection privée




Détail de l'Horloge



Étiquette placée à l'arrière de l'horloge




Forcados - ils prennent le taureau par les cornes pendant les corridas
Modèle créé par Amadeu Rocha
Collection privée




Vasco da Gama
Modèle créé pour la fabrique "A Vencedora"
Collection privée




Détail avec inscription "Vasco da Gama"



  

Figure masculine
Modèle créé par Amadeu Rocha
Collection privée


Malheureusement la documentation au sujet de la création 
de ces bouteilles n'est pas abondante. Il existent d'autres 
modèles et si j'en trouve ils viendront enrichir ce dossier.


Bibliographie


Le verre au Portugal
Catalogue d'une exposition organisée par
l'Association Portugaise d'Archéologie Industrielle
Musée National d'Art Ancien, Lisbonne 1989














 






Página Portuguesa



Encontros mais do que improváveis!

A noite transforma os nossos pensamentos num mundo
por vezes bem assustador, ganhando um peso acrescido
e impedindo-nos assim de nos desligarmos da nossa consciência 
e de dormirmos descansadamente. De madrugada, quando 
a luz do dia vai regressando, os pensamentos que invadem
o nosso espaço mental nocturno tendem a tomar uma dimensão 
mais racional, apesar do peso e sofrimento que possam 
na realidade traduzir.
Muitas vezes e para proteger o nosso sono, o cérebro,
programa verdadeiras sessões de cinema e por sinal gratuitas!
Envoltos nos sonhos, por vezes bem absurdos, os nossos
mecanismos de defesa diurnos - embora diminuídos -, cedem o
lugar à fantasia. Nesse espaço, onde as representações mais 
criativas tendem a atenuar os focos directos daquilo que nos
inquieta, surgem inúmeros actores que, por vezes, nem sequer 
conhecemos ou viremos a conhecer.
Estou certo de que todos já tiveram experiências extraordinárias
durante as suas noites, dignas dos melhores filmes que
se apresentam em Cannes ou em Hollywood...
Foi o que me aconteceu, há umas noites atrás.
Subitamente vi-me sentado à mesa com a rainha Isabel II.
Imaginem...
Acompanhava uma senhora, que certamente faria parte dos
apoios da real Senhora. A conversa foi longa e como não
poderia deixar de ser, acompanhada de um chá.
Não me peçam detalhes, que não tenho infelizmente o hábito 
de tomar nota do cartaz de estreias assaz produtivo, das minhas 
noites de cinema, muito menos dos assuntos tratados.
Mas confesso que a conversa foi animada e num ambiente muito
tranquilo e cordial. Terá sido em português ou em inglês? ...
Só recorrendo à hipnose, poderia eventualmente recordar os 
pormenores do real chá.
Ao acordar, fartei-me de rir.
O mundo do cinema nocturno tem destas coisas.
Não pensem que o cartaz apresenta-me sempre filmes leves...
Mas esses guardo-os para mim, que não vos quero assustar!
Tenham bons sonhos e excelentes filmes.

r n c - Jun. 2015





    Generosidade

   No primeiro Domingo de Abril fui ao cinema.
   A continuação de um filme de que muito gostei,
   prometia uma noite cheia de imagens e sons, repletos
   de histórias de vida tão naturais quanto intensas,
   como aquela com que a tela me preenchera, na primeira 
   parte que vi há meses atrás.
   Não me equivoquei.
   Refiro-me ao Exótico Hotel Marigold...
   Destaco duas actrizes, simplesmente admiráveis: 
   Judi Dench e Maggie Smith.
   Hotel situado em Jaipur, onde um grupo de ingleses 
   reformados vai viver, sem meios para tratarem da sua saúde
   em Inglaterra. Argumento para uma aventura cheia de exotismo 
   e de cor. Feita de encontros, desencontros, tratando admiravelmente 
   de aspectos relacionados com o envelhecimento e a forma
   como as diversas personagens vão lidando com o mesmo.
   A atmosfera do filme envolve-se de música inconfundível, 
   tão ao gosto daquelas paragens e que para descrever, 
   eu ousaria usar apenas uma palavra: Saudade.
   Não me perguntem porquê, nem de quê, mas aquele ambiente vai-se
   construindo sobre a generosidade, o amor, a traição, as perdas, a vida
   e inevitavelmente a morte, abordada de forma subtil e delicada.
   Desta segunda parte e além de todo o ambiente daquela Índia exótica,
   guardo uma frase que trouxe comigo e me fez reflectir:
   "Gosto de pessoas que plantam árvores. Mas ainda gosto mais daquelas,
   que sabendo que nunca virão a beneficiar da sua sombra, continuam
   a plantá-las."
   Generosidade. É disto que o filme trata. Com muita vida e muita cor.
   É disso que a Humanidade precisa com urgência e de que se encontra
   profundamente carente.
   Não deixem de ver o filme!



    Dia 20 começou a Primavera... E foi o dia mundial da Felicidade!




    Que me contas, Felicidade?

   A palavra "Felicidade" complica-nos a vida há centenas de anos.
   Abrindo-se ao sabor de inúmeras aspirações - umas mais legítimas 
   do que outras -, todo o ser humano envolve-se desde a mais 
   tenra idade na procura do prazer, do sentimento de bem estar, 
   que assume - ou deveria assumir... -, formas muito mais elaboradas, 
   à medida que se vai tornando adulto.
   Freud nomeou essa fase precoce do desenvolvimento infantil
   de Princípio do Prazer, em que o bebé busca sensações prazerosas 
   no mamar, no chupar, na utilização dos seus esfíncteres, libertando e 
   por vezes retendo, o que o seu corpo vai evacuando (no sentido lato), 
   resultando da sua fisiologia.
   Nessa fase, a intolerância à frustração é praticamente total e à mínima 
   "contrariedade", a ilusão da felicidade plena parece esfumar-se 
   num ápice, surgindo o choro para libertar a tensão interna e o aviso 
   de que o bebé se sente profundamente infeliz.
   A interacção com o cuidador principal - habitualmente a mãe -, 
   vai ajudar o bebé a suportar essas contrariedades bem como 
   os chamados objectos transicionais - p.e. o boneco preferido ou outro 
   objecto investido como tal.
   Segue-se uma outra fase que surge por volta dos 3 a 4 anos. 
   Resolvidos certos conflitos e com a constituição do Super-ego, 
   instância que resulta da formação do conceito de interdito, surge 
   o Princípio da Realidade. 
   Quando esse princípio está bem interiorizado, ele permite à criança 
   e mais tarde ao adulto, perceber que o conceito de felicidade é muito 
   relativo, o que facilita o "convívio" com a inevitável frustração e a 
   sua sublimação através da tolerância, da paciência e o investimento 
   em recursos adequados como por exemplo as actividades artísticas.
   A felicidade é assim, um conceito muito subjectivo. 
   E mesmo que a felicidade plena não seja deste mundo, há pequenos 
   grandes momentos que se revestem de um profundo bem estar.
   As cores do mar. Os cheiros que as ondas empurram para terra firme...
   Uma paisagem... A natureza subtil... Um olhar, um abraço, um sorriso...
   O nascimento de um bebé... Duas crianças que brincam...
   Um bom prato à mesa com amigos... 
   As notas de um trecho de música... Um perfume que nos inspira... 
   Adormecer tranquilamente... Sonhar...
   A Vida!
   Felicidade. Uma palavra tão simples e por vezes tão distante, cujo dia
   se comemora todos os meses de Março, com a chegada da Primavera.

   r n c - Mar. 2015





   Mea culpa! Mea culpa!
   Com um ano de existência e muito embora
   este Blog tenha tido e continue a ter por objectivo
   a divulgação direccionada para os francófonos, daquilo 
   que de bom temos por estas paragens lusitanas, 
   sinto a falta de uma coluna em português. 
   Aqui tem ela o seu parto.
   Um abraço muito especial, para todos aqueles que
   sentem o peso da SAUDADE, que noutros tempos
   em que era estudante, experienciei.
   Tempos em que comunicar e receber Informações 
   de Portugal, era moroso e bem mais limitado... 

   Escrevo mensalmente um artigo ou uma história
   a pedido de colegas que organizam o jornal 
   da empresa onde trabalho.
   Vou partilhá-los convosco.
   Aqui vai uma história de Natal, que acaba de ser
   publicada esta semana (15 de Dez.) e o tema que
   desenvolvi no passado mês de Novembro.




    A todos um FELIZ NATAL e um 2015 cheio de coisas boas!






    Noites de Natal.

   Sentado no chão, junto à lareira da sala, 
   o Tomás deixa-se levar pelo crepitar da lenha que arde 
   e observa a luz das chamas que saltitam, ora para um lado, 
   ora para o outro. 
   Pensativo, vêm-lhe à memória recordações de outros Natais.
   Subitamente, repara numa chama mais intensa, 
   na qual se desenha um pinheiro largo e bem alto, 
   cheio de bolas, grinaldas douradas e repleto de estrelas cintilantes. 
   Perplexo, fixa o olhar num turbilhão de crianças que, cantando 
   e envolvendo a árvore se agitam, enchendo-a com estrelas 
   que retiram de um grande cesto. Destacando-se do grupo, 
   uma menina vem na sua direcção, estendendo uma mão 
   cheia de estrelas e saindo da labareda, a sorrir, abraça-o 
   espalhando-as ao seu redor.
   Sem palavras e com o coração a galopar, o Tomás tenta
   agradecer-lhe, mas a chama desaparece como por encanto, 
   sugando a menina que acena com a mão, para se despedir...
   O abraço daquela criança, aquelas estrelas e a luz tão suave, 
   mergulham-no num profundo bem-estar.
   Quem diria..., ele que não é nada dado a essas coisas.

   -  Tomás, vamos jantar!
   -  Mãe... Vi uma menina que...
   -  Estás sempre a ver coisas filho...
   -  Mas vinha das chamas...

   A mulher retirou-se da sala, murmurando por entre os dentes 
   que aquele rapaz era sempre a mesma coisa. Que só perdia 
   tempo com o que não devia... Que isto e mais aquilo...

   O Tomás fixa atentamente a lareira que continua a crepitar, 
   por entre chamas luminosas e bem agitadas, na esperança de 
   voltar a ver aqueles meninos, envolvendo o pinheiro grande...
   Subitamente e de outra chama intensa desenha-se uma montanha 
   coberta de neve, que uma lua cheia ilumina, ajudada por milhares 
   de salpicos cintilantes, formando a Via Láctea... E descobre um 
   batalhão de bonecos de neve, marchando em fila indiana 
   e cantando uma música de Natal, puxando um imenso trenó, 
   cheio de envelopes coloridos.

   -  Tomás! ...
   -  Mãe, que sítio tão bonito!
   -  Dentro da lareira... filho, estás a delirar!
   -  Mas...pelo menos venha ver...       
   -  Está na hora de ir jantar... Vá, levanta-te!

   Encolhendo os ombros, volta a sair da sala...

   Tentando acenar aos bonecos de neve, o Tomás aproxima-se 
   mais da lareira mas, sentindo um intenso calor, afasta-se 
   para não se queimar...
   Um dos bonecos de neve aproxima-se e sorrindo, estende-lhe 
   um envelope azul. O Tomás tenta apanhá-lo, mas este abre-se 
   saindo do seu interior uma carta, onde consegue ler 
   a seguinte mensagem:

   Tomás, aquilo que verdadeiramente importa,
   é saber olhar e sentir com o coração. 
   Estar atento aos outros, sem os ferir, sem te achares 
   acima deles, porque os que te parecem menores, 
   quantas vezes estão bem acima de ti...

   O Tomás fica envergonhado...
   Recorda que na véspera insultou uma colega, tratando-a de burra 
   por estar a dizer coisas, a seu ver sem nexo, ao ponto de a ter 
   expulso do grupo de amigos, por não a suportar...
   E tenta agarrar a carta que, instantaneamente se desfaz em pó, 
   acabando por dizer em voz alta parte daquilo que leu...

   ...sem os ferir, sem te achares acima deles...             
   Os que te parecem menores, 
   quantas vezes estão bem acima de ti...

   Pensativo volta a fixar as chamas que se erguem na lareira, 
   quando começa a desenhar-se numa delas uma pradaria 
   onde um grupo de espantalhos faz uma roda de mãos dadas, 
   assobiando em alto e bom som...
   Aproximando-se mais, o Tomás tenta perceber de que são feitos 
   mas, mais uma vez, o calor intenso da lareira acaba por o afastar... 
   Nesse instante sai da roda um espantalho, 
   que caminha na sua direcção.

   -  És muito feio...e tens o nariz a pingar!

   A cara do espantalho parece-lhe medonha. O nariz é um rabanete, 
   os olhos duas azeitonas pretas e a boca mais parece um pimento...,
   tudo agarrado a uma vassoura virada ao contrário e espetada 
   numa abóbora com duas beringelas a fazerem de pés. 
   Os braços cobertos com estopa rasgada e umas mãos com dedos 
   pontiagudos - feitos com os ramos de uma árvore seca e muito velha -, 
   também não ajudam nada...

   -  Pois é meu amigo. Mas há pouco, quando te entreguei a carta, 
      achaste-me muito engraçado e depois de leres a mensagem 
      que te escrevi, ficaste embaraçado...
   -  Para além de seres bruxo, ...tu és feio.
      O boneco de neve era muito bonito!
   -  Por fora, meu amigo! Por fora... 
      E fiquei assim, porque o sol derreteu a neve que me cobria. 
      Mas por dentro, sou o mesmo...
   -  Nunca vi tal coisa...um boneco de neve que afinal é espantalho...
   -  Tomás, recorda o que leste na carta!
   -  Ai a minha memória...
   -  Quando te convém és uma verdadeira cabeça de alho xoxo.
   -   ... saber olhar e sentir com o coração...
   -  Isso mesmo...

   Ficou pensativo.
   Quantas vezes desdenhara na escola aqueles que lhe pareciam 
   diferentes. Tratava mal um colega, só porque gaguejava, 
   empurrava uma colega que tinha muitas sardas, 
   com as quais embirrava... E insultava um miúdo, que tinha alergias 
   frequentes e que quase sempre pingava do nariz...

   -  Olha..., tens razão. Tenho sido muito mauzinho...
       Mas olha lá, como é que eu posso fazer para mudar?

   O espantalho desenha no ar, com os dedos, uma forma 
   semelhante a um coração e desaparece como por encanto...

   Confuso com tantas lições, ouve a mãe aos gritos, 
   chamando-o novamente para o jantar...
   Olhando uma última vez para dentro da lareira, 
   vê as crianças de mãos dadas aos bonecos de neve 
   e aos espantalhos, todos  ajoelhados à volta da 
   árvore toda iluminada, que acaba por se transformar 
   num presépio. 
   Abrindo bem os olhos, para não perder nada,
   o Tomás centra a sua atenção naquele menino tão bonito 
   nas palhas deitado, espalhando um suave sorriso, 
   cheio de ternura e paz.
   Ao olhar para o céu todo estrelado, descobre um conjunto 
   de letras que se vão organizando numa frase:

   "Faz aos outros o que gostas que te façam a ti"

   O Tomás, comovido, olhando novamente para o menino
   agradece-lhe, levantando-se a correr para a cozinha, 
   onde a mãe o aguarda para jantar.

    r n c - Dez. 2014


   



Acerca da resiliência...







Outono resiliente

Questiono-me muitas vezes sobre a forma de lidar 
com as inquietações que o Outono, daqueles que acompanho, 
vão levantando. As deles e as minhas...
Não me refiro obviamente à estação do ano, mas a esta fase 
da vida em que as folhas que se foram perdendo vão deixando 
marcas que nos perturbam e inquietam. Marcas que nos levam 
a esquecer que estamos todos num barco semelhante, apenas 
a distâncias diversas do cais de desembarque. 
Não culpo apenas os sinais que a gravidade vai deixando, 
mas também o cansaço e a inerente falta de forças, tantas vezes 
responsável pelo desânimo e a perda de interesse pela vida, 
que observo abater-se com mais intensidade sobre uns 
do que outros. Certamente plenamente justificados com as agruras 
que, com maior ou menor frequência, quase deitam por baixo 
os mais resistentes.
Reflectindo sobre este assunto - e perdoem-me não lhe chamar 
Inverno -, que esperar dessa estação que alguns intitulam 
de recta final?
Uma parte aparenta alimentar o mito da eterna juventude, 
espelhando um retrato imutável, num ilusionismo feito ao gosto 
de Dorian Gray...
Como se os anos os tivessem poupado ao desgaste. As queixas 
afloram a memória, que deixou de ser o que era...passando-se 
rapidamente à frente, com comentários descrevendo as novidades 
do dia...
Recordo-me das 2 bisavós que tive a sorte de conhecer. Nos seus 80 
e alguns anos - frágeis e com perda considerável de autonomia -, 
em nada se assemelhavam, há uns 30 anos atrás, a parte dos avós 
com que me vou encontrando.
Autónomos, aparentemente com menos 10 ou mesmo 15 anos de vida,
mantêm um interesse pelos acontecimentos diários, de fazer inveja 
a boa parte das gerações mais novas!
Outros, agarrados aos seus vinténs parecem esquecer que um dia
tudo será devolvido, porque apenas adquiridos sob a forma 
de "empréstimo"...
À Terra o que é da Terra...
E há aqueles que, abraçando a sua fé, parecem prosseguir o seu 
caminho de forma mais realista e tranquila, rumo a uma certeza 
que espreita o Outono como uma mera fase de transição para 
um recomeço, num espaço e numa dimensão diferentes.
Encontro também quem associe um pouco de todos estes 
ingredientes, sem no entanto distanciar-se da realidade. 
No fundo, ninguém está verdadeiramente preparado para ela. 
É um facto que há quem passe pelo Outono da vida como por 
um soalheiro Verão de São Martinho, mas há também quem 
se sinta recorrentemente no meio de um interminável temporal.
Uns mencionarão de imediato a falta de saúde... Outros o dinheiro, 
ou a falta dele. Mas nem sempre assim é, bastando ver o sorriso 
de tantos, que tão pouco têm e tanto têm para dar. 
Será uma questão de temperamento? De Fé? Ou tão só de 
conformismo?
A questão pode encontrar parte da resposta num conceito 
intitulado de resiliência.
Ser resiliente é ter a capacidade de enfrentar os temporais da vida 
sem se deixar abater. Como uma árvore que, apesar de exposta 
ao vendaval, aguenta-se firme, evitando assim desenraizar-se...
Por vezes a origem dessa resiliência sustenta-se numa simples 
questão de temperamento, noutros casos resulta da aprendizagem 
que a vida foi proporcionando, de acordo com o ditado que diz que 
depois do temporal, vem a bonança...
Espero um dia vir a ser resiliente, como muitos avós que observei 
e tenho observado e por quem tenho uma profunda admiração.
Saber olhar de frente para a tormenta, sem vacilar, mantendo a 
serenidade, a Fé e toda a confiança. Porque as estações vão-se 
sempre sucedendo...e não poupam ninguém. 
Alguém que já passou para o cais da outra margem e de quem 
sinto muita saudade, disse-me um dia: Sempre em frente filho,
e sem olhar para trás!
É o que tentarei fazer, quando chegar o Outono da minha vida. 
Continuar a seguir sempre em frente e sem olhar para trás!


r n c  nov. - 2014







   Outro dia

   Quando a noite cai,
   Também se espalha sobre as árvores,
   Cobre as ondas do mar
   Acende estrelas, desperta sonhos,
   Que os cheiros invadem a rua...
   Sabias que a cigarra sabe dançar?

   Aromas de terra molhada,
   Alecrim e alfazema...
   No silêncio de quem observa,
   Faz tudo para escutar...
   O morcego traz o silêncio...
   Dizem que o mocho morre a cantar!

   Ao vento acorrem mil desejos,
   Escondidos nas folhas mais densas,
   Histórias e mais histórias...
   Sopra a vela, como quem apaga um dia,
   Uma noite de insónias...
   Será que o tempo se esvazia?

   Na fonte espelhada, da água mais pura,
   Descansam as almas... que a paz silencia
   A lua despede-se, cansada...
   Renascem saudades, horas e mais horas...
   Não chores lágrimas vazias...
   Acredita, amanhã é mesmo outro dia!

   r n c - há muitos anos...